Tuesday, January 25, 2005

"Diálogo (sur)real" ou "O teatro da vida real"

Eu: - Não, não dá não (meio grossa, confesso). Ele não come chiclete (gente, um ano e meio, alooouu!?!)...
Mãe da menina (para meu sogro, em tom baixo): ~ Fulana tem os dente tudo podre (sic), cheia de cárie, e num come bala nem chiclete...
Eu (pensando, quase falando): “Então tá, peraí que eu vou dar um cigarro pra Miguel fumar, tem gente que nunca fumou e morre de câncer...”.
Eu (consolando Miguel chorando): - Vamos mamar, vc tá com sono...(ninando)
Meu sogro: - Toma Gabriel (sic), toma pipoca (estende um pacote de salgadinho mais "salgadinho" que tem. E eu não tô falando do preço...).
Miguel: Hum, hum...(nota da tradução: "eu quero, me dá!")
Eu (bancando a chata, podem dizer): - Não dá não seu Teixeira, é muito salgado pra ele (meu sogro se aproxima ameaçador)... não dá seu Teixeira, por favor, NÃO QUERO QUE DÊ ISSO A ELE!!! (enfática).
Meu sogro (se afastando rindo, com o salgadinho na mão): - Então toma esse. (estende um pacote de biscoito recheado).
Eu (suspirando, conformada): - Pelo menos o recheio eu posso tirar...
Miguel: Ess, ess (N da T: “Esse, esse!”)
Fim (quer dizer, até Miguel ver que eu tou tirando o recheio e começar a chorar).

Gente, eu sei que eu sou chata, até aí nenhuma novidade, se eu já era assim antes do meu filho nascer, imagina agora. Mas todo cuidado é pouco. Internamente muitos podem pensar como essa senhora do diálogo semi-fictício, que é besteira proibir, não dar, mas sinceramente, não acho. A criança não vai morrer se deixar de comer trinta balas por minuto, ou se não comer o bolo de gordura hidrogenada que vem dentro do biscoito. Não vai me acusar, anos mais tarde, de ter perdido sua infância porque quase não comia porcaria fora de hora só porque não tinha o que fazer. Não vou poder evitar vê-lo se empanturrar de coxinhas e refrigerante em festinhas na escola, aliás nem quero. O que eu quero é ensiná-lo que não é só porque tem que é pra comer. Em casa ele vai comer direitinho sim. Quando sairmos, e se surgir a oportunidade, ele vai comer batata frita o quanto ele quiser, tomar refrigerante (mas sempre dando a ele a opção do suco; por sinal ele prefere o suco. Pelo menos por enquanto...) e comer doces de sobremesa. Acho que se não posso evitar, pelo menos posso adiar a série de problemas que ele possa vir a ter, não só de saúde física, mas mental também... A gente tem que aprender com os erros dos outros: minha sogra toma refrigerante como se fosse água, mas tem tanta culpa que precisa dividir (o refri e a culpa) com quem estiver com ela no bar. Serve até cliente mesmo. Kamily vai no bar e pega os pacotes de biscoito recheado e adivinha? Come só o recheio, deixa o biscoito lá. Já fez cinco obturações (não tem três anos) e segundo a médica, está obesa (20 quilos). Acho sacanagem, claro, mostrar a criança (que não entende) um doce e depois não dar. Mas o que aquela menina levianamente fez foi provocar em Miguel um sentimento que ele não tinha. Se ele fosse diabético, a sacanagem seria pior, porque aí ele não poderia MESMO comer o tal doce, e a ânsia dele seria pior por causa da hipoglicemia. Não vou subestimar a inteligência de vocês tentando explicar o que eu estou fazendo. Assim como tenho o cuidado de não sair com Miguel no vento sem camisa, ou botar ele pra dormir com a cabeça molhada, ou não deixar ele andar descalço na calçada daquele bar, quero ter o direito de fazer as escolhas mais adequadas pra ele, enquanto ele não tem capacidade de julgar, e com isso ensinar a ele o que funciona p´ra ele, seja com os hábitos alimentares dele, como na educação geral. Quero ter o direito de educar meu filho, sabe? Acho que isso não é crime nenhum. Mas em tempos de inversão de valores, acho que é bem capaz de o Conselho Tutelar me chamar pra uma conversa, porque estou pensando em colocar meu filho na escola em vez de deixar com os avós pra eles “criarem” o “Gabriel”...

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