Visto que:
1. Estou trabalhando há um ano e pouco como professora da rede pblica estadual e venho presenciando situações até mesmo constrangedoras (para não dizer chocantes) na "minha" escola, situações que não presenciava, ao menos não com tanta intensidade, há oito anos, quando trabalhei na mesma rede como contratada, e depois como estagiária, por dois anos;
2. Meu marido está trabalhando como taxista nas ruas do Rio, principalmente no Centro e Zona Sul, até mesmo subindo morro de "comunidade", tem visto coisas que, infelizmente, estão anestesiando a opinião pública, tamanha a frequencia em que estão ocorrendo nesses ultimos anos;
3. A ditadura, única época em que se teve (ao menos oficialmente, já que há quem defenda que os militares maquiavam tudo, ajudados pela censura) uma certa tranquilidade e uma diminuição da violência, é repelida com horror só comparável ao pavor pelos nazistas.
Acho que estou me tornando Fatalista. A coisa não é mais tão simples de se resolver. Se antes já era difícil, devido às nossas origens históricas, agora está ficando pior, porque os problemas sociais que deram origem às desigualdades, aclamadas como a principal causa da violência, já estão enraizados e se tornaram imensos, como terríveis baobás, a minar e deturpar a vida humana, não só o ser social, mas o ser vivo. Quem hoje em dia não sente pelo menos uma pontinha de revolta, raiva, sentimentos que não deveriam existir no coração do justo? Uma raiva incontida pela injustiça, pela humilhação, pela qual todos nós passamos diariamente? Quem sou eu para julgar meu marido quando ele defende a pena de morte com um brilho sádico nos olhos? Ele não é violento, de forma alguma, mas quem garante que ele vai se manter frio e não revidar e se vingar de uma pessoa se esta vier a causar algum mal a mim ou a meu filho? Como eu posso pedir a meus alunos que não revidem uma humilhação ou um soco de um colega, que não façam guerra de bolinhas de papel, onde o maior argumento é: "ele começou"? Se dentro de casa, a troco de nada, ele ganha um tapa da mãe, que já ganhou tabefe do marido, que foi humilhado no serviço ou assaltado e empurrado violentamente no ônibus...? O assaltante não é a origem, nem o patrão. Nas favelas, ou nas empresas, a ordem do dia é: "se dar bem". Todo mundo critica a pessoa que tá por cima, seja ele o traficante, o empresário ou o político, mas em todos os casos, todo mundo preferia estar por cima, e se tivessem uma oportunidade, seja como político, empresário, ou mesmo traficante, ninguém pensaria duas vezes! Iria, se tornaria uma dessas pessoas, pra quê? pra se dar bem! Todos querem aproveitar, e se aproveitar!! Os meus alunos falam de sacanagem, eu sei, mas no fundo eles bem que gostariam de ter a grana que os colegas do "movimento" têm. Não pensam que é uma carreira mais curta que a de modelo, não pensam que é simplesmente errado!! Eu não faço uma coisa errada porque posso ser punida não, gente, não faço porque o nome já diz: É ERRADO!!! Até porque, se fosse por ser punida, não ia ter problema, afinal, quem é punido hoje em dia, por fazer algo errado? Há tanta coisa errada no mundo que nem é passível de punição... Ou vocês acham que uma menina de 15 anos que transa, engravida, larga a escola e vai depender da mãe pra criar e alimentar o filho, depois arruma mais meia dúzia de filho, todos de pais diferentes, continua indo a baile funk pra ver se arruma mais um pai pra mais um filho dela, vocês acham que isso tá certo?
Se algum de vocês quiser entender melhor a nossa situação, analisada por especialistas, e formular sua própria tese, pode começar por
esse artigo de Sociologia.
De repente alguém consegue ver alguma luz do fim desse túnel desmoronado, e aponte uma solução aos nossos governantes. Eu, particularmente, só vejo Jesus vindo no fim desse túnel, porque a mudança tinha que começar de dentro de cada um de nós, e de todos, tanto os do lado "branco" quanto do lado "negro" da força... e isso, sinceramente, não sou eu nem nenhum de nós, pobres mortais, qua vamos conseguir. Depende de nós, e se fosse tão bonito e fácil como na música... mudar o coração de todo (o) mundo...
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