Friday, November 05, 2004

Joke killer

Sou uma assassina. Confessa. Não, nada que dê pena de 20 anos de reclusão, ou mesmo penas alternativas. Quem pena são os outros. Sou uma assassina de piadas.
A primeira de todas eu matei com 13 anos. Era tão boa, a danada. Mas eu, no meu instinto homicida (ou piadicida), dei cabo da pobre sem dó nem piedade. Tinha ouvido de um tio meu e achei fácil de contar. Arrisquei numa rodinha de piadas em uma festa da família. De repente, todos silenciaram. Nem todo o álcool consumido aquela noite foi capaz de relaxar a boca dos cretinos para eles rirem. Afinal, eu a matara. À queima roupa.
Passei uns anos sem cometer nenhum delito. Afinal, chegou minha fase, digamos, mundana", e eu caí em tentação novamente. Foram três ou quatro "vítimas" nesse período, e eu, incentivada pelas cubas e pelos amigos (Queriam me ver na lama, hoje sei), disparava minha metralhadora verbal e matava, matava, matava.
Por fim, na faculdade, cheguei à minha ruína completa. Sem talento teatral, achei que pelo menos no papel poderia salvar algumas pobres piadas. Mas só consegui redigir atestados de óbito das coitadas.
Criei um visual mais intimista, comedido, para camuflar os anos de crime e as mortes pesando em meus ombros. Assumi um ar "blasé" de quem sabe, mas não quer contar. Mas bastava uma provocação: "Conhece aquela do...?" e pimba! Eu sacava a arma de destruição em massa: minha língua. E o silêncio no final me confirmava: mais uma.
Quando houver punição para esse tipo de crime, passarei os dias lembrando das minhas vítimas e riscando pauzinhos na parede, tentando lembrar quantas foram. Triste. Quase como o final das minhas pobres piadas.

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